quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Os incompreendidos, François Truffaut 1959

Lançado em Paris em junho de 1959, Os Incompreendidos, primeiro longa-metragem de François Truffaut, é, com Ascensor para o Cadafalso (janeiro 1958), Le beau Serge (fevereiro 1959) e Acossado (março 1960) um dos principais filmes na origem do movimento da Nouvelle Vague. Nota-se que ele obteve uma fama imediata graças ao prêmio pela direção no Festival de Cannes, no mês anterior. Os Incompreendidos não é, entretanto, uma obra revolucionária, ou mesmo inovadora. Está ligada por um lado à Zero de Conduta ,de Vigo (revolta da infância e da adolescência contra o mundo dos adultos) e por outro às aquisições do neo-realismo, tendência De Sica (cf. Vítimas da Tormenta), com uma menor atenção ao contexto social. Truffaut procura romper com os estereótipos do melodrama tradicional, dando ao seu filme o ritmo de uma crônica. Sua narrativa, que ele pretendia relativamente não-dramatizada (dédramatisé), é frequëntemente frouxa, distendida e carente de invenção no detalhe das cenas. Seu principal mérito é chegar a suscitar, nas últimas sequências, uma emoção não solicitada e até mesmo se apoiando sobre uma certa frieza de tom. A cena mais celebrada é também a melhor: é a do interrogatório de Doinel por um psicólogo de quem se ouve somente a voz. Nessa sequência, onde triunfa a espontaneidade de Jean-Pierre Léaud, o filme transpassa o neo-realismo para encontrar o estilo de reportagem televisiva. Os Incompreendidos é a primeira parte de um ciclo Doinel que continua em Antoine e Colette, sketch de O Amor aos Vinte Anos (1962), Beijos Proibidos (1968), Domicílio Conjugal (1970), O Amor em Fuga (1978). Junto com O Quarto Verde, o ciclo constitui, notadamente por causa de seu caráter autobiográfico e da presença do mesmo intérprete em todos os filmes durante vinte anos, a parte mais original da obra de Truffaut.

N.B.: Contrariamente à opinião geralmente aceita, esse não é o filme em que Jean-Pierre Léaud faz sua primeira aparição no cinema, e sim em La Tour, prends garde! de Georges Lamplin, filmado no verão de 1957.

Jacques Lourcelles - Dicionário de Filmes.
Tradução: Matheus Cartaxo.

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