quinta-feira, 5 de março de 2009

Dillinger está morto, Ferreri

Descrição experimental e quase muda da angústia da alienação do homem contemporâneo, perdido em seus objetos, seu conforto, nos sons e nas imagens difundidos ao longo do dia pela televisão. O filme pode ser visto como um sonho ou uma metáfora da insônia, aspiração para o Nada do sono ou da morte. Sua duração é sufocante e castradora, seqüência de gestos privados do devir e de finalidade, filmados em longos planos sequências voluntariamente desprovidos de dinamismo interno. Na vacuidade desta durée, o assassinato da esposa representa para o personagem o gesto mais gratuito e o mais significativo que este poderia cometer. A visão deste filme e a visão do mundo que se exprime nele parecerão a muitos uma mauvaise farse ( ( uma farsa de mau-gosto). É isto o que Ferreri deseja. No interior da obra desesperada, iconoclasta, teratológica de Ferreri, Dillinger está morto é uma espécie de ápice, uma anti-fábula, um anti-drama, algo como um longo interlúdio de televisão que podemos assistir comendo ou pensando em outra coisa. Uma expressão limite da fascinação do vazio.

Nota: Ferreri , 16 anos mais tarde, vai construir o desenlace de I love you utilizando os planos do final de Dillinger.
Jacques Lourcelles
Tradução: Luiz Soares Júnior.

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